Nos últimos dez anos, a Bahia tem enfrentado um cenário preocupante em relação à saúde mental dos trabalhadores. O número de concessões de benefícios previdenciários por transtornos mentais saltou de 5.020 em 2014 para 15.189 no ano passado, um aumento superior a 200%. O dado reflete não apenas a intensificação de problemas ligados ao ambiente profissional, mas também mudanças profundas na forma como as pessoas lidam com o trabalho, a vida social e as adversidades do cotidiano.
Especialistas apontam que as novas formas de organização do trabalho marcadas por metas cada vez mais rigorosas, cobrança constante por resultados e jornadas mais longas têm contribuído de forma significativa para esse crescimento. A busca por alta produtividade, em muitos casos, gera desgaste emocional, esgotamento físico e episódios de ansiedade e depressão. Esse quadro se agravou durante a pandemia de Covid-19, quando o isolamento social, a incerteza econômica e a adaptação ao trabalho remoto criaram condições ainda mais estressantes.
O impacto vai além do indivíduo: as empresas também sofrem com o aumento do absenteísmo e da rotatividade. Profissionais afastados por longos períodos geram custos diretos e indiretos, além de comprometerem a continuidade de projetos e o clima organizacional. Essa realidade reforça a importância de investir em políticas internas de apoio psicológico, programas de bem-estar e ambientes de trabalho mais acolhedores.
Autoridades de saúde destacam que o aumento expressivo dos afastamentos exige medidas urgentes. É necessário ampliar o acesso a serviços de saúde mental no Sistema Único de Saúde (SUS), promover campanhas de conscientização sobre prevenção e combater o estigma que ainda cerca os transtornos mentais. Psicólogos e psiquiatras também ressaltam que buscar ajuda logo nos primeiros sinais de sofrimento emocional pode reduzir significativamente o risco de agravamento.
Outro fator essencial é a mudança cultural. Reconhecer que saúde mental é parte integral da saúde do trabalhador é um passo decisivo para transformar essa realidade. Programas de capacitação, rodas de conversa, flexibilização de jornadas e incentivo à prática de atividades físicas e culturais podem contribuir para diminuir o número de afastamentos e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida.
O crescimento de mais de 200% nos benefícios previdenciários por doenças mentais na Bahia acende um alerta. O desafio agora é encontrar equilíbrio entre produtividade e bem-estar, garantindo que o trabalho seja fonte de realização e não de adoecimento.