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14/06/2025

Zambiapunga: Herança Africana Viva na Cultura Baiana

Um legado ancestral dos negros bantos do Congo-Angola que pulsa com força nas tradições do Recôncavo Baiano.

O Zambiapunga é muito mais do que uma manifestação folclórica é um elo vivo entre o Brasil e o continente africano. Com raízes profundas na cultura dos povos bantos, trazidos da região do Congo-Angola durante o cruel processo de escravização, essa tradição se enraizou na Bahia como um grito de identidade, resistência e memória ancestral.

Chegando ao Recôncavo Baiano com os africanos escravizados nos séculos XVII e XVIII, o Zambiapunga encontrou nas festas populares um espaço para preservar a religiosidade, a música e os rituais herdados do outro lado do oceano. Hoje, cidades como Nilo Peçanha, Taperoá, Cairu e Valença mantêm viva essa tradição, especialmente nos dias 1º e 2 de novembro, datas dedicadas ao culto aos mortos o Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados em que se misturam o sincretismo religioso e o clamor dos antepassados.

O cortejo do Zambiapunga é formado por homens mascarados, com roupas coloridas e fantasias feitas de folhas, tecidos, couro, miçangas e chapéus enfeitados. As máscaras, que cobrem totalmente o rosto e às vezes até o corpo, são esculpidas em madeira e representam entidades, espíritos e figuras míticas ligadas à ancestralidade africana. Esses personagens tomam as ruas ao som de tambores, apitos, ganzás e cantos em dialetos de origem banto, criando uma atmosfera mágica e, por vezes, assustadora.

A dança, marcada por movimentos vigorosos e saltos cadenciados, expressa uma energia ancestral e simboliza a passagem dos espíritos pela Terra. É comum que os Zambiapungas avancem pelas ruas em grupos, muitas vezes em silêncio, rompido apenas pelo som ritmado dos instrumentos e dos passos no chão. O povo assiste respeitoso, encantado e, por vezes, com temor simbólico diante do mistério das figuras mascaradas.

Embora em determinados momentos tenha sido marginalizado e reprimido especialmente por sua ligação com rituais afrodescendentes o Zambiapunga resistiu ao tempo, à escravidão, à opressão e ao esquecimento. Sua existência atual é, acima de tudo, uma celebração da liberdade e da força cultural dos povos africanos que ajudaram a formar a identidade brasileira.

Mais do que uma expressão artística, o Zambiapunga é um patrimônio cultural imaterial que precisa ser protegido, valorizado e difundido. Representa a espiritualidade africana que, mesmo em solo estrangeiro, não se apagou. Ao contrário, floresceu entre o povo negro baiano como símbolo de orgulho, pertencimento e resistência.

Ao contemplar um cortejo de Zambiapunga, não se vê apenas uma dança ou um desfile. Vê-se a história de um povo que não se deixou silenciar. Vê-se o Congo e Angola pulsando no Recôncavo Baiano. Vê-se a África viva no corpo, na música, na cor e no ritmo de quem nunca esqueceu de onde veio.

 

Foto: Rita Barreto


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