O despertador tocou como em todos os outros dias, mas naquele tudo parecia mais difícil. Os olhos pesavam, o corpo doía e a alma parecia exausta. João encarava o teto do quarto como se buscasse ali uma resposta que não vinha. Os últimos meses tinham sido duros: a perda do emprego, o fim de um relacionamento, a solidão crescente. Cada dia amanhecia mais cinza, e as cores da vida pareciam ter se apagado.
Mas naquele dia, algo diferente aconteceu. Ainda deitado, ele ouviu uma música vindo da rua. Era um violão, tocado por alguém que cantava com leveza. João levantou-se, quase por impulso, e abriu a janela. Lá embaixo, um senhor de cabelos brancos sorria enquanto dedilhava notas conhecidas de uma canção antiga. Os olhos do homem encontraram os de João e, com um gesto simples, ele acenou.
Aquele pequeno aceno foi como um sopro. João sentiu algo quente dentro do peito, uma memória de tempos mais leves, uma fagulha de alegria esquecida. Resolveu sair para caminhar, algo que não fazia há semanas. As árvores estavam floridas, o céu aberto, e o ar carregava um frescor que ele não percebia havia tempos.
Durante a caminhada, viu uma criança ajudando outra a levantar após uma queda. Mais adiante, um senhor alimentava pássaros na praça. Cada cena era uma lembrança silenciosa de que a vida ainda acontecia e persistia.
Na volta para casa, passou novamente pelo músico. Desta vez, sentou-se em um banco próximo e escutou até o fim da música. Quando a canção terminou, o senhor olhou para ele e disse: "Nem sempre a gente entende o motivo, mas seguir em frente é sempre a escolha certa. Cada amanhecer traz outra chance."
João agradeceu com um sorriso. E naquele momento, sem grandes mudanças, sem milagres ou reviravoltas, a vida falou com ele de forma simples e poderosa: "Continue."
E ele continuou. Passo após passo, dia após dia. A vida não mudou de repente, mas algo dentro dele sim. E isso bastou para seguir.
Porque, às vezes, tudo o que a gente precisa é lembrar que sempre existe um novo começo. Basta respirar fundo, abrir a janela e escutar talvez a vida esteja falando com você também.
"Esta obra é uma ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência."