Helena encontrava conforto nas palavras. Desde menina, escrevia diários. Guardava sentimentos, memórias, mágoas e sonhos. Mas, após a morte do marido, parou. Durante dois anos, o diário ficou fechado. A dor era grande demais para caber em frases.
Aos 58 anos, sentia-se como um livro inacabado, esquecido na estante. Sua filha, que morava longe, enviou-lhe um caderno novo, com capa de couro e uma dedicatória singela: "Escreve, mãe. Quero ler você de novo."
Com mãos trêmulas, Helena recomeçou. As primeiras linhas foram duras, rasgadas de lágrimas. Escreveu sobre o silêncio da casa, o prato a menos à mesa, os domingos solitários. Mas, aos poucos, algo mudou. As lembranças dolorosas começaram a se transformar em gratidão. As páginas foram se enchendo de histórias de amor, de superações, de momentos de luz em meio à escuridão.
Inspirada, criou um clube de escrita para mulheres viúvas em um centro comunitário. Cada uma levava seus diários, cartas, textos soltos. Compartilhavam dores, risos, receitas e lembranças. Juntas, descobriram que escrever não era apenas registrar o que se vive era reinventar o que ainda podia ser vivido.
Um editor local soube do grupo e convidou Helena para publicar uma coletânea com os textos. O livro foi lançado com o nome "Entre a Luz e a Escuridão", com uma dedicatória: "A todas que se redescobrem quando escrevem".
Na última página do novo diário, Helena escreveu:
"A dor foi minha professora. A escrita, minha cura. E a vida
meu próximo capítulo."
"Esta obra é uma ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência."