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Ficção 25/06/2025

A Última Carta de M.

A Última Carta de M.

Na biblioteca de Rafael Campos, o silêncio é absoluto. Lara segura o envelope com mãos trêmulas. O papel é grosso, envelhecido, selado com cera e marcado com a letra "M". Helvio, ao lado, percebe que essa não é apenas mais uma carta cifrada é um testamento afetivo, um relicário de sentimentos contidos por décadas.

Ela rompe o selo.

"Minha filha,
Se estás a ler estas palavras, é porque a verdade te alcançou.
Não sei em que momento da tua vida isso acontecerá, nem sob que luz verás meu nome. Talvez como traidora. Talvez como mártir.
Mas acima de tudo, quero que saibas: eu amei.
Amei tua vida antes mesmo de te ver.
Amei Rafael até a última madrugada em que o vi.
E amei a liberdade como quem ama o ar."

A carta é longa. Reconta, com detalhes emocionantes, o romance entre M. e L. Rafael. O desejo de lutar, o medo constante, a entrega. Mas há algo novo: M. revela que, após sua fuga, viveu sob o nome de Beatriz Moura, trabalhando como bibliotecária em Coimbra e, mais recentemente, em Lisboa.

Ela se manteve nas sombras, vigiando de longe o crescimento de Lara, interferindo discretamente em momentos decisivos como sua entrada no curso de criptografia e a bolsa internacional que recebeu aos 22 anos.

"Eu nunca deixei de estar ao teu lado. Apenas aprendi a ser silêncio."

No final da carta, um trecho cifrado. Helvio percebe o padrão: trata-se de uma coordenada geográfica. Após decodificá-la, descobrem um endereço em Lisboa. Um prédio discreto no bairro de Campo de Ourique.

Lara sente o corpo inteiro vibrar.
Ela está viva, Helvio. Ela está me chamando.

No dia seguinte, sob o céu cinzento da capital, Helvio e Lara seguem até o local. Ao chegarem, encontram uma pequena livraria no térreo. A funcionária, ao ouvir o nome "Lara Vieira", se emociona.

Dona Beatriz me entregou isso. Disse que um dia alguém com olhos intensos viria procurar por ela.

A funcionária entrega uma chave e um bilhete com horário e data: "Jardim Botânico da Ajuda. 16h."

Helvio olha para Lara.

Ela marcou o reencontro.

Enquanto isso, no Jardim da Ajuda, M., com um livro nas mãos, senta-se no banco ao lado de uma estátua. O vento move suas roupas leves. Os anos passaram, mas seus olhos continuam firmes. Ela sussurra para si:
Hoje, o tempo me devolve o que nunca deveria ter sido levado.

"Esta obra é uma ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência."


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