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Ficção 24/06/2025

O Homem do Alentejo

O Homem do Alentejo

A revelação de que Joaquim Vieira não era o verdadeiro L. transformou completamente o rumo da investigação. Lara, agora entre o luto e a esperança, tem em mãos a última pista deixada por M.: uma referência velada ao "homem do sul, que fala com os olhos e escreve com o coração partido". Helvio, com ajuda de suas conexões em bibliotecas históricas e registros eleitorais antigos, identifica uma possibilidade: um professor de filosofia aposentado, chamado Rafael Campos, vivendo há mais de trinta anos numa casa isolada entre as vinhas do Alentejo.

A viagem até lá é silenciosa. Lara observa a paisagem seca e dourada pela janela do carro, tentando imaginar o que poderá dizer  ou ouvir. Helvio, sempre racional, prefere focar nos detalhes: o diário de M. mencionava Rafael apenas uma vez, como "Aquele que ficou para trás".

Ao chegarem, são recebidos por um senhor de olhar profundo e expressão calma. Rafael, embora surpreso com a visita, não hesita ao ver Lara.

Você tem os olhos dela diz, com a voz embargada. Eu esperei esse dia desde que M. desapareceu.

Sentados em sua biblioteca pessoal, entre estantes de madeira e fotos antigas, Rafael revela a verdade. Ele era o verdadeiro "L."  codinome usado nas cartas. Ele e M. foram amantes e aliados políticos durante os anos mais sombrios da ditadura. Quando perceberam que estavam sendo vigiados, elaboraram um plano para salvar M. e a criança que ela carregava: Lara.

Mas Joaquim, até então considerado aliado, os traiu. Entregou o esconderijo de Rafael e M. à PIDE, mas fez um acordo silencioso para salvar Lara  criando-a como filha legítima.

Eu fui preso. Torturado. Mas sobrevivi. E decidi desaparecer, para que você tivesse uma vida possível. Sem medo. Sem perseguição explica Rafael, com lágrimas nos olhos.

Lara, dividida entre revolta e ternura, ouve em silêncio. Quando Rafael lhe mostra uma caixa com cartas que M. lhe enviou secretamente, mesmo após sua fuga, ela chora. São palavras de saudade, de culpa e de amor. Todas terminam com a mesma frase:
"Se Lara viver em liberdade, então nossa história valeu a pena."

Helvio, que até então observava tudo com discrição, se sente parte de algo maior do que um simples caso. Ele percebe que o que começou como uma investigação se tornou um elo entre gerações marcadas por coragem e silêncios.

Ao final, Rafael entrega a Lara um envelope com o último manuscrito de M., ainda não lido.
Ela sabia que você viria. E pediu que eu entregasse isso pessoalmente.

E em Lisboa, M., viva, assiste à gravação de uma câmera de segurança posicionada na estrada do Alentejo. Ela sorri, orgulhosa, mas seus olhos escondem uma nova dor.

Agora, falta apenas uma verdade a ser revelada sussurra.

"Esta obra é uma ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência."


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